O caso do espírito que vagava em mansão do Centro

A casa estava escura

Naquela velha mansão da 13 de Maio no Centro de São Carlos, habitava um fantasma atormentado, preso entre as sombras do passado e a eternidade do presente. Seu nome, esquecido na memória dos vivos, era Alexandre, um homem que em vida era conhecido por sua generosidade e bondade, mas que agora vagava como um espírito inquieto, condenado a reviver incessantemente os momentos mais dolorosos de sua existência. A agonia tomava conta daquele ambiente.

No começo do século XX, Alexandre tinha sido um próspero comerciante de Secos e Molhados em São Carlos, a casa, estava sempre permeada de risos e alegria, mas agora tinha se transformado num mausoléu de tristeza e desespero. A transformação começou com a morte trágica de sua esposa, Flávia, ela foi atropelada por uma charrete na avenida São Carlos em frente da Catedral em 1910.

Incapaz de suportar a dor, Alexandre fechou sua alma para o mundo e acabou aprofundado na escuridão da solidão e do luto. Aquela casa que um dia foi um símbolo de prosperidade, se transformou em um reflexo de sua alma despedaçada.

Na noite em que a morte o levou, Alexandre não encontrou a paz que tanto almejava. Ao invés disso, despertou como um espectro, um fantasma, preso ao lugar onde sua dor era intensa, machucava demais. Atormentado, Alexandre caminhava pelos corredores em ruínas, suas pegadas estavam ecoando como sussurros tristes, cheiravam à morte. Cada sala, cada objeto, trazia de volta memórias de uma vida que ele não conseguia mais alcançar. O piano no salão principal, onde Flávia tocava suas melodias favoritas, emitia sons diabólicos, como se tentasse comunicar a presença dela no inferno.

Os anos passaram, e a mansão foi sendo destruída pelo tempo, suas paredes cobertas de musgo e suas janelas foram quebradas pelo desleixo. No entanto, Alexandre permaneceu por ali, uma sombra silenciosa observando a decadência. Sua angústia era alimentada pela incapacidade de se comunicar com o mundo dos vivos, que ocasionalmente invadiam seu santuário, atraídos pelos contos de assombrações. Os xeretas, homens e mulheres, sentiam um frio intenso e inexplicável, viam portas se fecharem sozinhas e ouviam gemidos suaves ao longo dos corredores. Poucos ficavam por muito tempo, assustados pela presença invisível que impregnava o ar.

A mente de Alexandre estava fragmentada entre o desejo de descanso e a incapacidade de se libertar. Em suas horas mais desesperadas, ele vagava até o antigo jardim, agora uma selva indomável, onde Flávia costumava cultivar várias plantas. Lá, ele se ajoelhava, tentando sentir o perfume das flores que há muito haviam desaparecido. Alexandre queria saber se algum dia encontraria redenção, se alguma força benevolente o tiraria de seu tormento interminável.

Porém, numa noite sombria, uma jovem chamada Amelia entrou na mansão. Diferente dos outros, ela parecia não temer os rumores de assombrações. Amelia era uma médium, sensível ao mundo espiritual, e logo sentiu a presença de Alexandre. Com paciência e compaixão, ela tentou se comunicar com ele, ouvindo seus lamentos e sentindo sua dor. A jovem se compreendeu daquele espírito não era uma ameaça, mas uma alma perdida, presa entre dois mundos.