A Baixada do Mercado está triste

O cenário de caos

Depois de tudo o que vimos na última enchente o sentimento não poderia ser outro. A Baixada do Mercado está triste, não há clima de Natal, apenas o repique da Pandemia de COVID-19 e os comerciários e comerciantes tentando se reerguer da maior tragédia que vimos por causa de uma chuva em São Carlos.

Estão limpando, fazendo paredes, reconstruindo, retirando a sujeira que ficou e tentando dar dignidade para uma região que tem sido constantemente destruída por chuvas fortíssimas que já entraram para o cenário de normalidade da cidade, o que, por si só, se constitui num grande sacrilégio.

As pessoas estão a todo momento olhando para o tempo, em direção da Catedral como se pedissem aos céus uma benção e que se a chuva chegar, que venha mansa. Ao menor sinal de céu carregado, vários comerciantes da Episcopal, da Geminiano, da Jesuíno começam a conversar entre si como na tarde desta terça, 1. É aquele sentimento de prevenção, aliado ao ditado famoso de que “gato escaldado tem medo de água fria”. Eles estão esgotados, basta olhar no semblante de cada um que se tiverem que passar por uma nova enchente, eles passarão, mas não sabemos se voltarão aos seus postos.

A Baixada do Mercado chora e o choro pode ser sentido por toda a cidade de São Carlos, pois o local que deveria (e sempre foi) o mais vivo, o mais pulsante e alegre e que pertence a todos os são-carlenses corre risco de se transformar num nada, afinal de contas, há placas de lojas se mudando e as grandes redes certamente não quererão tomar tanto prejuízo constantemente, por isso podem migrar para outra região, na melhor das hipóteses.

Lúdica, a Baixada carrega a alma do são-carlense, mas ela corre o risco de desaparecer, pois não deveria existir, afinal é cortada por rios e foi urbanizada da maneira mais equivocada possível e ao longo dos anos poucas obras foram realizadas para tentar mitigar o prejuízo das enchentes.

É possível compreender que a maior parte do comércio do Centro da cidade está num local de alto risco para enchentes em São Carlos? Essa pergunta é a que deveria martelar a cabeça de qualquer prefeito, desde a primeira urbanização do local.

São Carlos cresceu a partir desta região, milhares de famílias retiram seu sustento deste lugar, por isso a Prefeitura tem a obrigação de não deixa-la sumir, o que dever ser feito é algo que só mesmo técnicos podem explicar. É evidente que há a opção de se transferir o centro comercial para outros locais e isso poderia ser uma opção gradual e a área do Mercado ser transformada num grande parque no Centro de São Carlos, mas para isso será necessário consenso e planejamento, afinal existem donos de imóveis neste lugar e isso se transformaria numa grande novela. Sem contar que o parque (no futuro) também não deveria inundar, não é?

A tristeza da Baixada é a de todo o são-carlense. Ao longo da minha vida, sempre andei por ali, para perceber e sentir o clima da cidade, para ver as pessoas no meio da rua, no meio da praça, para olhar o comércio popular e hoje isso tudo está destruído ou funcionando a menos que meia-bomba.

Foi muito cruel ver a pandemia de COVID-19 prejudicar o comércio e agora, às portas do Natal, uma chuva secular, acabar com a esperança de quem acreditava vender alguma coisa e dar uma melhorada na vida. Precisamos começar a preservar a natureza, frear a especulação imobiliária, crer que o Plano Diretor ajuda a preservar a vegetação natural e lutar para que tenhamos obras que não deixem tragédias como essas se repetirem. O momento é de tristeza, reflexão e resignação.

Renato Chimirri