*BASEADO NUMA LENDA URBANA SÃO-CARLENSE.
Anos 60. Era uma casa na rua 13 de Maio no Jardim Brasil quase no Centro da cidade. Tinha muitas plantas na porta, um portal descascado pelo tempo, paredes com tinta velha e um ar um pouco assustador.
Ali vivia uma senhora, ela sempre intrigava a vizinhança pois pouco conversava com as pessoas. Cumpria um ritual matinal de lavar a calçada com uma mangueira velha e depois passava a vassoura piaçava e catava as folhas das árvores. Três estavam plantadas no corredor de passagem, todas eram patas de vaca e as folhas se soltavam aos montes sempre que ventava por ali.
A mulher também tinha um hábito de deixar comida para cães e gatos em sua calçada, mas se negava a conversar com pessoas. Quase nunca respondia um “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”. Os vizinhos não entendiam bem porque aquele era seu comportamento, alguns pensavam que era surda.
De vez em quando, do fundo de sua casa saía uma fumaça branca que tomava conta do quintal. O cheiro de ervas queimadas fazia com que muitos olhassem pela janela para ver o que estava acontecendo. A casa era fechada, não dava para ter noção, mas pelo menos uma vez por semana aquela fumaça aparecia.
Frequentemente, a senhora saía com sua mala xadrez e ficava uns dias fora. Dizia-se que ela viajava para a casa do filho que estava localizada nas montanhas da Serra da Mantiqueira. Passavam-se umas semanas e depois o regresso era certo e a rotina retomada.
Da última viagem, trouxe uma arte dessas feitas por pessoas que moram em áreas montanhosas. Era um sino que pegava o som dos ventos, colocou na área de sua casa. Quando passava um ventinho, ele fazia um barulho doce, alguns vizinhos se incomodavam com a situação, mas depois se acostumaram.
A rotina da mulher misteriosa era a mesma, até que num sábado, a menina Jade percebeu que “a Bruxa” (era assim que os vizinhos a chamavam na 13 de Maio) tinha sumido. A menina que morava duas casas para frente da senhora passou uma porção de vezes em frente daquele imóvel estranho, mas não viu mais a senhorinha.
Porém, numa noite de sexta-feira 13, quando todos já estavam dormindo, Jade continuava na mureta de sua casa vendo “a banda passar” e ouviu que o portão da Bruxa bateu. Aquela pancada despertou a curiosidade da jovem de 15 anos que resolveu ir até a frente da casa. Não viu nada, começou a voltar para o seu lar, mas sabe quando você olha e vê o portão aberto? Não deu outra, Jade entrou e começou a pisar no chão de “vermelhão” da área de serviço e depois subiu uma pequena escadinha até chegar na porta da sala que por sinal estava apenas encostada.
Entrar ou não entrar? Jade entrou, é claro, chegar até lá para não entrar seria uma perda de tempo absurda. A sala estava limpa, mas haviam muitos livros em cima de uma mesa, umas velas acesas, apenas a luz da cozinha estava ligada. A menina foi ver os livros e viu diversos títulos como: “O poder plantas”, “Curso de alquimia”, “Como transformar a vida através do encanto”, “Espíritos e entidades”, “Demônios, possessões e o obscuro”, “Anjos poderosos”, “São Miguel: o soldado de Deus”.
Jade não teve dúvidas de que estava na casa de uma bruxa, chegou até a pequena Copa e notou que uns escritos estavam em cima de uma mesa cheia de outros livros. Ao lado da mesa uma estante com muitas ervas catalogadas e todas com nomes em latim e também em português.
A jovem estudante do Álvaro Guião sentou, pois tinha percebido que a casa estava vazia e começou a olhar a mesinha. Foi quando percebeu um recado em cima da escrivaninha: “Aprendiz, sei que você chegou aqui por curiosidade, pois é assim que começamos nossa vida pelas coisas do oculto, se quiser continuar terá que fazer seu primeiro encanto, o feitiço está na receita em cima da mesa! Se não quiser, vá embora e feche o portão!”
Fazer ou não fazer? Essa era a dúvida que assolava o coração de Jade. A curiosidade e o ímpeto da juventude eram maiores que qualquer medo, então estava decidido que o feitiço seria realizado.
No papel estava o nome da magia: ILUMINAÇÃO. Jade o segurou e viu que seriam misturadas algumas substâncias e ervas em uma vasilha. Pegou todas, desde páprica até tomilho. Misturou todos e depois jogou alguns ingredientes que desconhecia, ascendeu a vela pedida, disse as “palavras mágicas” e foi até o cofre, conforme ilustração da Bruxa, pegou o ingrediente desconhecido. Quando jogou duas gotas na mistura houve uma breve explosão, Jade pulou, se escondeu atrás da cadeira, mas apreciou com satisfação o arco-íris formado na sala da casa, tudo se iluminou por pelo menos uns cinco minutos e ela pode perceber como realmente era aquela moradia por dentro. Havia muita cor por ali!
Terminada a luz, Jade se tocou que estava na hora de ir embora. Desceu e pequena escadinha, encostou a porta e começou a caminhar. Chegou em casa e subiu ao segundo andar, pois morava em um sobrado. Ainda estava impactada com os efeitos da magia que havia realizado naquela velha residência que ficava perto da sua. Abriu a janela que por sinal lhe permitia ver o telhada da casinha da Bruxa.
Foi quando notou que a mulher estava sentada fumando uma cachimbo em cima do telhado e lhe deu um tchau. O luar daquela Sexta-Feira 13 foi o contraste perfeito. Jade era vizinha da Bruxa.
Desde então, Jade foi aprender alguns segredos do ocultismo com a senhora da rua 13 de Maio.
Isso aconteceu por volta do ano de 1962. Jade hoje é quem passa ao futuro o que aprendeu com quem cultivava a magia do passado.
Renato Chimirri