A Educação acende um alerta no Governo Municipal

A recente carta de demissão coletiva de servidores do Departamento de Educação Básica da Secretaria Municipal de Educação de São Carlos chama a atenção não apenas pelo gesto administrativo em si, mas, principalmente, pelas motivações apresentadas. Ao formalizarem a saída dos cargos de confiança, os profissionais apontam uma divergência de princípios em relação à atual gestão da pasta, revelando um desalinhamento entre o projeto pedagógico existente e os rumos tomados pela nova direção.

Do ponto de vista institucional, mudanças em cargos comissionados são comuns e fazem parte da dinâmica administrativa de qualquer órgão público. A legislação permite que gestores façam alterações conforme critérios de confiança e diretrizes de governo. Contudo, quando essas mudanças geram rupturas significativas no corpo técnico que sustenta políticas públicas essenciais — como é o caso da educação —, é preciso refletir com mais profundidade sobre os impactos envolvidos.

A educação pública é um dos pilares do desenvolvimento social e deve ser tratada com especial zelo. Trata-se de um bem coletivo que não pode ser conduzido apenas sob a lógica gerencial ou política. As decisões que envolvem a estruturação pedagógica e administrativa de uma rede de ensino devem considerar o acúmulo de experiências, os fundamentos técnicos e a continuidade de projetos que foram construídos ao longo do tempo.

Na nota oficial, a Secretaria Municipal de Educação reconhece a saída de servidores e reafirma seu compromisso com a qualidade do ensino. No entanto, ao reduzir o episódio a um simples “descontentamento de um pequeno grupo” e ao focar exclusivamente na legalidade da medida, perde-se a oportunidade de estabelecer um diálogo mais construtivo com a sociedade e com os profissionais da área.

A gestão educacional exige sensibilidade, escuta ativa e valorização dos quadros técnicos que, em muitos casos, dedicam anos à consolidação de propostas pedagógicas alinhadas às necessidades locais.

A saída coletiva desses servidores, mesmo sendo um ato legal e respeitoso, representa um alerta para a importância de se garantir coerência entre as políticas educacionais e os valores que orientam sua execução. A educação pública não pode ser alvo de descontinuidade abrupta, tampouco tratada como setor secundário dentro da máquina pública.

Em um momento em que se discute amplamente o papel das políticas públicas na redução das desigualdades e na construção de uma sociedade mais justa, é fundamental que o poder público municipal compreenda que a educação não pode ser apenas administrada — ela precisa ser compreendida, fortalecida e respeitada como política de Estado. O futuro da cidade, afinal, passa necessariamente pelas salas de aula, pelos projetos pedagógicos e pela valorização dos profissionais que constroem, diariamente, uma rede de ensino pública de qualidade.