A margem do silêncio: a tragédia de uma mãe e o seu filho

O amanhecer trazia consigo uma névoa densa sobre o rio Jacaré Guaçu, como se o próprio céu chorasse em silêncio pela tragédia que ali se desenrolava. Desde terça-feira, a angústia pairava entre as árvores e os galhos que margeavam o córrego Saltinho. Josué, apenas cinco anos, tinha se perdido nas águas, e sua ausência parecia ecoar em cada curva do rio.

Naquela madrugada de sexta-feira, às 4h30, o destino decidiu quebrar o silêncio. A busca incessante conduziu a Polícia Ambiental ao encontro de Josué. Era como se o rio, cansado de guardar seu segredo, finalmente entregasse o pequeno aos braços do mundo. Os agentes, que até então eram soldados incansáveis de uma busca dolorosa, se tornaram guardiões de um adeus.

A mãe, Karen, havia sido encontrada no dia anterior. Sua luta com as águas terminara antes, mas o vínculo entre mãe e filho parecia indissolúvel até mesmo na morte. O rio não os separou; apenas os levou consigo para um breve instante.

Às margens do rio, o corpo frágil de Josué aguardava a chegada da perícia técnica. Não havia pressa, porque o tempo, naquele momento, parecia ter parado. O vento carregava as folhas caídas, como se a própria natureza estivesse tentando confortar quem presenciasse aquela cena.

Entre as árvores, restava a sensação de impotência, um nó na garganta que nem o mais experiente dos policiais conseguia desatar. Não era só o corpo de uma criança que o rio havia devolvido; era também a história de uma vida interrompida, um sorriso apagado, uma infância roubada.

Ao amanhecer, a luz do sol tocou as águas do Jacaré Guaçu, iluminando a despedida. Naquele canto isolado do mundo, o rio voltou a correr silencioso, levando consigo o testemunho de uma dor que nenhuma margem poderia conter.