Chiquinho Rossi: O último “barbeiro raiz” de São Carlos

Fazendo pose na cadeira que é sua companheira por 8 décadas

Chiquinho Rossi nasceu em 16 de julho de 1922, tem 97 anos, e pode ser considerado o último “barbeiro raiz” de São Carlos.  Seu pai, Francisco Rossi, também tinha um salão de barbearia na antiga Rua São Carlos perto, como diz Chiquinho, da bomba de gasolina, ao lado da Escola Álvaro Guião e também de onde hoje está instalada a Drogaria São Paulo. “Foi ali que nasci na rua São Carlos com a 15 de Novembro”, conta.

Chiquinho Rossi contou que tem o pai como amigo, professor e patrão. “Dentro do salão ele era meu patrão, na rua meu amigo e dentro de casa o meu pai”, relembra.

Ele se lembrou, nesta entrevista ao São Carlos em Rede, que seu pai tinha um salão também na avenida que tem o nome do padroeiro do município ao lado da antiga Livraria Brasil e do Café Dona Julia em frente ao Hotel Acácio. “Meu pai era italiano, nasceu na cidade de Rovigo”, disse.

Para quem não sabe, Rovigo é uma comuna italiana da região do Vêneto, província de Rovigo, com cerca de 48.179 habitantes. Estende-se por uma área de 108 km², tendo uma densidade populacional de 446 hab/km². Faz fronteira com Anguillara Veneta (PD), Arquà Polesine, Barbona (PD), Boara Pisani (PD), Bosaro, Ceregnano, Costa di Rovigo, Crespino, Lusia, Pontecchio Polesine, San Martino di Venezze, Vescovana (PD), Villadose, Villanova del Ghebbo.

A história da família de Chiquinho Rossi não é diferente dá de muitos italianos, tanto por parte paterna como materna, as pessoas vieram para o Brasil com o objetivo de trabalhar, saíram da Itália e buscaram vida nova num país diferente.

A vida de Chiquinho no mundo da barbearia começou a partir dos dez anos. “Comecei a aprender o ofício nessa idade, depois entrei no Grupo Escolar Paulino Carlos e me formei em 35 e hoje tenho 80 anos de profissão, cheguei a trabalhar em São Paulo e sou formado também como projetista por uma escola secundária que ficava perto do campo do Ruy Barbosa, tirei esse diploma em 1945”, diz. “Por 36 anos trabalhei na noite do São Carlos Clube no Centro, trabalhava como barbeiro, entrava às 7 e saía mais ou menos por volta das 11 ou meia-noite, isso depois de passar o dia atuando com meu pai”, emendou.

Chiquinho se recorda que trabalhou no Clube quando Romeu Santini era presidente e se lembra dos trajes a rigor que as pessoas precisavam usar nos bailes de gala. “Era tudo assim naquela época”, destaca.

 

A rotina

Chiquinho contou que abre seu salão às 7 horas da manhã. “Inicio nesse horário e paro mais ou menos por volta das 16h30”, afirma. “Saio para almoçar por volta das 11 horas e quando é 12h30 estou de volta”, emenda.

Na sua barbearia, Chiquinho faz de tudo: barba, cabelo, bigode, a chamada “barba modelada” com a precisão de mais 8 décadas de trabalho honesto sempre dosado com simpatia e bom humor e a famosa gravata borboleta. “Esses profissionais de hoje não são de nada, o freguês senta na cadeira e eles já perguntam qual o número da máquina que será usada, barba? Eles fazem só na máquina, eu só a uso quando vou modelar a barba do cliente, não sabem nem os nomes dos cortes de cabelo”, ressaltou.

Chiquinho relembra que fez o Tiro de Guerra entre 1938 e 1939. “Fui presidente de grupos da terceira idade, presidente pelo menos por dez gestões da associação de barbeiros”, afirma mostrando que tem história em vários setores da sociedade.

Chiquinho conta que sua esposa se chamava Adélia Zaninetti Rossi. “Ela era neta de fazendeiros, tenho quatro filhos, dois casais”, disse.

 

O assalto

Sobre o assalto que deixou os são-carlenses preocupados, Chiquinho cobrou mais rigor nas leis e que os jovens tenham mais educação. Mesmo depois do triste episódio onde sua barbearia foi invadida por um assaltante, Chiquinho conta que está bem e continua firme com seu trabalho que praticamente pode ser considerado um sacerdócio.

 

Gravação e fotos: Maurício Duch

 

Por Renato Chimirri