Cientista de São Carlos que esteve na Alemanha comenta reação do país europeu à pandemia de Coronavírus

Cientista esteve na Alemanha

Ao desembarcar na Alemanha em 1º de outubro de 2018 o pesquisador Caue Ribeiro, da Embrapa Instrumentação, jamais imaginava que, pouco mais de 18 meses depois, teria que fazer uma “força-tarefa” para terminar seus experimentos e antecipar seu retorno ao Brasil, sem sequer poder se despedir de seus colegas do período como cientista visitante.

Já em isolamento social em sua casa, em São Carlos (SP), perto da esposa e filhos – que retornaram ao País no início de fevereiro – apesar de não poder finalizar seu trabalho de uma forma “mais feliz” no Instituto de Energia e Clima (IEK) do Forschungzentrum, em Jülich, ele detalha como foi a reação dos alemães perante a pandemia do novo Coronavírus.

O líder da Rede de Nanotecnologia aplicada ao Agronegócio (AgroNano) conta que a partir de janeiro começaram as primeiras notícias sobre o Covid-19 vindas da China, onde ele esteve durante dois meses antes de viajar para a Alemanha. “Uma aluna de doutorado cujos pais moram em Wuhan – epicentro da doença – disse que eles só podiam sair duas vezes por semana para fazer compras, e com hora marcada”.

“Em pouco tempo ocorreu a situação na Itália e me impressionou muito como o governo alemão foi rápido, percebeu que o negócio poderia sair de controle muito rapidamente”, explica Caue, acrescentando que as medidas restritivas na Alemanha começaram mais ou menos na mesma época em relação à Itália, e de forma gradual.

Força-tarefa

Na primeira semana de março a direção informou que 50% do instituto passaria a fazer teletrabalho, mantendo os experimentos, mas com alternância em laboratórios e sem a presença de grupos. Já na segunda semana todas as Unidades do Centro de Pesquisa – que conta com cerca de 2 mil pesquisadores – foram fechadas, restaram somente as atividades essenciais.

“Na última semana de trabalho tivemos que fazer uma força-tarefa às pressas para terminar nosso experimento na casa de vegetação com 120 potes, que envolvia recuperar 120 plantas, 120 raízes, 120 amostras de solo; repreparar, medir, tirar a amostra, botar para secar. Conseguimos salvar o experimento, neste momento ele está secando lentamente nas estufas”, detalha Caue, acrescentando que, em seguida, toda a Alemanha entrou em lockdown (bloqueio).

“O respeito que os alemães tiveram pela ordem foi brilhante, era visível que a cidade (com cerca de 30 mil habitantes) esvaziou de um dia para o outro; apesar de algumas pessoas reclamarem, elas cumpriram muito bem”, narra o pesquisador, lembrando ainda que a primeira-ministra Ângela Merkel fez um pronunciamento à nação (incomum nessa época do ano)  dizendo que a pandemia é a maior crise da Alemanha desde a 2ª guerra mundial.

“Porém me assustou como quão rápido ela casou as medidas econômicas com as medidas sanitárias, já anunciando imediatamente os apoios e a busca de recursos para poder evitar o colapso do país. Isso foi brilhante! Trouxe uma certa tranquilidade, pois viram um governo comprometido. Para um país que viveu guerras como a Alemanha viveu, a forma deles encararem essa pandemia como uma guerra ensina muito”, argumenta Caue.

Retorno às pressas

            A proposta de fazer uma linha de pesquisa de conversão de Dióxido de Carbono (CO2) para combustíveis gerou muitas conexões, mas além da força-tarefa para finalizar os experimentos, o pesquisador teve que deixar a Alemanha às pressas, quando descobriu que seu voo de retorno havia sido cancelado, sem qualquer informação da companhia aérea.

            Caue comprou imediatamente uma nova passagem e, menos de quarenta e oito horas depois, quando já estava em conexão no aeroporto de Barajas, na Espanha, é que avisou a família. “Eu não queria alarmar ninguém dizendo que o voo tinha sido cancelado, então fiquei lá até o momento que vi que iria embarcar”, explica.

            “É muito triste você chegar num aeroporto como o de Madri e vê-lo vazio, nada aberto, as pessoas distantes umas das outras, o pessoal da limpeza esterilizando o aeroporto a cada cinco minutos”, diz o pesquisador, refletindo sobre o impacto da pandemia num dos principais hubs aéreos da Europa.

            “No fim, eu torço pelos amigos que ficaram lá, espero que estejam todos bem. Desde que cheguei (há 15 dias) estou trancado no meu quarto, tem sido uma grande experiência de trabalho remoto, inclusive em várias reuniões com eles, além de um grande ensinamento sobre o que vale a pena na vida”, finaliza Caue Ribeiro.