Conheça e ajude o Projeto Nós: Universitários que auxiliam pessoas carentes e instituições de São Carlos

Arrecadação de produtos que serão doados

Fazer o bem sem olhar a quem. O adágio é algo que precisa ser praticado diariamente para que não percamos o senso de humanidade e as jovens Ana Lima, de 24 anos, mineira de Alfenas e gerente de projetos de tecnologia, Kamila, 24 anos, paulistana e engenheira civil e Juliana, 23 anos, estudante de ciências da computação e bauruense, estão nessa batalha diária com uma belíssima iniciativa denominada “Projeto Nós”.

Nesta oportunidade, conversamos com Ana Lima, que gentilmente atendeu à reportagem e explicou como funciona este trabalho que vem ganhando corpo na comunidade são-carlense:

 

Como o projeto começou? Quem idealizou? E o que ele faz?

Ana Lima: Todas as integrantes do Projeto se conheceram em trabalhos sociais desenvolvidos durante o período em que eram universitárias. Cada uma de nós sempre participou de projetos na universidade como o Operação Natal, Campanha USP do Agasalho, Projeto Rondon, Centro de Voluntariado Universitário.

Esse ano, quando a pandemia começou, a Kamila postou no Instagram sobre a ideia, rapidamente abraçada pelos amigos, eu quis ajudar com o projeto. A Juliana não estava no país e, quando voltou, se ofereceu para cuidar da parte de marketing.

O Projeto funciona da seguinte forma: são mapeadas famílias e instituições que precisam de ajuda. Durante a semana são recolhidas doações de mantimentos, roupas, calçados e também doações financeiras. Com o dinheiro arrecadado são feitas as compras em atacado, balanceando preço e qualidade de modo a obter o melhor rendimento da verba da semana. É importante ressaltar que há um contato diário com as instituições, de forma que a gente possa comprar o que, geralmente, não é doado. Alguns mantimentos são bastante doados nas instituições, já outros, apesar de necessários, são menos doados. Identificamos e doamos justamente esses itens mais difíceis de serem arrecadados nas instituições. Por exemplo, fraldas geriátricas, lâminas de barbear, lâmpadas que quebraram na instituição, etc. Sábado é o grande dia, são recebidas as compras de mercado e distribuídas as doações para as entidades e famílias mapeadas. Por fim, é feita a prestação de contas com todos os doadores, apresentando recibos, especificando os itens comprados e relatando quais foram as instituições atendidas. Na semana seguinte, o esforço recomeça.

 

Ajudar as pessoas hoje em dia é mais fácil ou mais difícil, especialmente por conta da pandemia, como você observa essa situação?

Ana Lima: Mais difícil, muitas pessoas estão com empregos e situações de vida instáveis, tiveram alterações em sua renda e é preciso compreender essa realidade. As pessoas que podem doar também estão em um momento complicado. Por outro lado, toda essa situação escancara a desigualdade em que vivemos e se há um momento que doar pode fazer uma tremenda diferença, esse momento é agora.

 

O são-carlense é um povo solidário?

Ana Lima: Sim, muitos são-carlenses aderiram à campanha e nos ajudam, mas é importante ressaltar que a maioria das doações atualmente são de universitários que estudam aqui, mas são de fora ou que passaram pelas universidades, se formaram e foram embora. Todas as integrantes do Projeto são de fora de São Carlos e vieram estudar na USP e na UFSCar. É difícil passar por um período tão intenso como uma formação universitária e não desenvolver um carinho e uma relação especial com a cidade.

 

Vocês são ligados a algum movimento social, partidário, igreja ou qualquer outra instituição?

Ana Lima: Não, todas tem suas preferências políticas e religiosas, mas o Projeto Nós é independente e não é ligado a nenhum partido político ou instituição religiosa.

 

Como a pessoa pode participar dessa ação?

Ana Lima: Aceitamos doações de alimentos, produtos de limpeza ou de higiene, roupas e outros tipos de mantimentos. Também é possível fazer transferências bancárias ou ajudar divulgando nas redes sociais. Para contribuir com o projeto e continuar essa corrente de solidariedade entre em contato através do @projetonos_sc no Instagram.

 

Para onde vai aquilo que vocês arrecadam?

Ana Lima: As Instituições Doces Flautistas, Comunidade Missionária Divina Misericórdia e o Comitê de Crise da Paróquia São Nicolau de Flüe são as principais atendidas, além das famílias individuais. A seleção vem de contato prévio com as instituições, no qual as organizadoras do projeto puderam comprovar a seriedade do trabalho desenvolvido em cada uma das organizações escolhidas.

O Doces Flautistas é um projeto socioeducativo que reúne crianças e jovens dos bairros Cidade Aracy 2, Antenor Garcia, Jardim Zavaglia, Planalto Verde e Eduardo Abdelnur com o objetivo de oferecer novas oportunidades por meio da música. O coordenador identificou as famílias que necessitam de cestas básicas e o Projeto Nós as oferece. É o coordenador que faz a entrega dessas cestas.

A Comunidade Missionária Divina Misericórdia acolhe pessoas que estiveram situação de rua. Uma parcela dos atendidos é de enfermos, portanto exigem cuidados especiais. Atualmente existem quase 140 homens atendidos pela instituição. Esses homens vivem nas casas da instituição, ou seja, precisam de alimento e produtos de higiene pessoal e coletiva.

A Paróquia São Nicolau de Flüe já atendia 42 famílias cadastradas antes do início da pandemia como parte de seus projetos solidários. Com o crescimento de necessitados e felizmente, de voluntários, a Paróquia decidiu instituir um Comitê de Crise que agora atende mais de 260 famílias. No caso das famílias atendidas individualmente são identificadas necessidades pontuais, como cestas básicas ou itens específicos, tais como fraldas, NAN e roupas para recém-nascidos.

Pontualmente também são ajudados outros projetos, quando necessário, como já foram ajudadas a Obra Lumen, o acolhimento emergencial de pessoas em situação de rua e o Centro de Umbanda Cabocla Yara que cozinha para as pessoas em situação de rua.

 

Qual a sensação de ver alguém que precisa recebendo uma ajuda que não esperava?

Ana Lima: Trata-se de um dever cidadão zelar pela nossa comunidade: deixar o individual de lado e pensar no coletivo torna os laços entre todos nós mais fortes. A sensação que fica é de que ainda há muito trabalho a fazer, nosso projeto lida com situações de emergência, muitas delas, extremas. Nosso maior sonho é que ninguém chegue nem perto de passar por essas situações, e que todos os direitos e o mínimo para que se viva seja assegurado, mas para isso as mudanças precisam ser mais profundas, com esforços de longo prazo e maior abrangência.

 

Renato Chimirri, com informações repassadas por Ana Lima.