Cristiane Brasil é a nova ministra do Trabalho

O anúncio foi feito pelo pai, um dos condenados no escândalo do “mensalão” e então deputado federal Roberto Jefferson: a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) será a nova ministra do Trabalho.

Ela assume o lugar de Ronaldo Nogueira, que pediu demissão no último dia 27 alegando que irá se dedicar à sua campanha pela reeleição à Câmara dos Deputados. 

Inicialmente, o indicado do PTB para o cargo foi o deputado Pedro Fernandes (PTB-MA). O parlamentar chegou a dizer que tinha sido convidado e que aceitou . Mas nesta terça-feira (2), ele afirmou que não assumiria mais a pasta por ter sido “vetado” pelo ex-presidente José Sarney (PMDB), que negou o suposto veto.

Lei mais em:  Deputado Pedro Fernandes assume o Ministério do Trabalho dia 

O parlamentar maranhense disse que “não deu” para ser ministro porque seu nome criaria “embaraço” entre o presidente Michel Temer e Sarney, um dos políticos mais influentes do PMDB e do Maranhão, base eleitoral de Pedro Fernandes.

Já Jefferson, entre lágrimas e pausas dramáticas, disse que a nomeação de sua filha é um “resgate” à sua imagem após o mensalão. O dirigente do partido foi o pivô do escândalo político iniciado em 2005 e chegou a ser condenado e preso. “É um orgulho e uma emoção que me dá. É o resgate, sabe querida, é o resgate. Fico satisfeito”, disse Jefferson para a filha de acordo com informações veiculadas pela imprensa. 

O nome da deputada foi levado ao presidente Michel Temer em uma reunião no Palácio do Jaburu na tarde desta quarta-feira, 3, com Roberto Jefferson, presidente nacional do partido. Ainda segundo declarações de Jefferson à imprensa, Temer consultou o líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes (GO), e telefonou para a nova ministra para saber se eles aceitariam o convite. E teve resposta afirmativa de ambos.

Cristiane encerra em 2018 seu primeiro mandato como deputada federal, foi eleita em 2014 justamente defendendo o legado do pai, que teria sido vítima de uma injustiça ao denunciar para a imprensa o mensalão.  

Impeachment de Dilma

Em abril de 2016, Cristiane era também presidente de seu partido, o PTB e um de seus últimos atos à frente da sigla foi justamente fechar a questão a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

Na votação na Câmara, no dia 17 daquele mês, Cristiane usou o símbolo dos favoráveis à saída da ex-presidente, a camisa da seleção brasileira, para declarar seu voto. No discurso, lembrou a cassação do mandado do pai, onze anos antes, e votou pelo afastamento de Dilma em “homenagem” ao pai.

Apoio a Temer

Em 2017, Cristiane apoiou o governo de Michel Temer em questões decisivas, como a PEC do Teto dos Gastos Públicos e a terceirização para todas as atividades. Votou também a favor da reforma trabalhista e contra a abertura de investigação de Temer, que poderia afastá-lo da presidência da República.

Temas polêmicos

Em 2015, Cristiane foi autora de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe a reeleição de presidente, governadores e prefeitos. Pelo texto, só seria permitida a candidatura “para um único período subsequente, sendo proibida, a reeleição por períodos descontínuos”.

No mesmo ano, servidoras da Câmara protestaram contra a proposta da deputada de aprovar um código de vestimenta para banir minissaias e decotes mais ousados dos corredores e salões da Casa.

No ano passado Cristiane foi contra Projeto de Lei 5069/2013, que cria uma série de dificuldades para mulheres vítimas de estupro serem submetidas legalmente a um aborto.

“Este projeto é um dos maiores retrocessos do Brasil para os direitos duramente conquistados pelas mulheres. Com sinceridade, vou fazer de tudo pra derrubá-lo no Plenário da Câmara”, declarou à época da aprovação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

O projeto depende de aprovação em Plenário e não há data marcada para a votação. 

Sem inquéritos no STF

Atualmente não há nenhum inquérito em tramitação sobre Cristiane Brasil no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em 2015, foram abertas duas investigações sobre a deputada para apurar supostos crimes eleitorais no pleito de 2014, mas os dois casos foram arquivados por falta de provas de seu envolvimento. Nos dois inquéritos, o próprio Ministério Público, responsável por acusações, pediu o arquivamento.

Em um inquérito, ela era suspeita de fazer propaganda irregular no dia da votação de segundo turno, quando foi vista com um grupo de pessoas que carregavam bandeiras em apoio ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) e ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-TJ). Depoimentos confirmaram que ela não participava de atos de campanha, só cumprimentou amigos.

Em outro caso, ela era suspeita de corrupção eleitoral, mediante fornecimento de exames oftalmológicos e óculos em troca de espaço na casa de eleitores para afixar propaganda, além de bancar festa para obter votos. Moradores e testemunhas negaram os fatos, apontados em denúncia anônima.

Citação em delações

A deputada, contudo, apareceu no ano passado nas delações feitas pela Odebrecht e pela J&F – mesmo assim, não foi aberta qualquer investigação.

Executivos da Odebrecht apontaram Cristiane Brasil como possível destinatária de parte da propina paga pela construtora a pedido do deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ), na condição de coordenador de campanha do ex-prefeito do Rio de Janeiro Paes (PMDB-RJ).

Em abril, quando o caso veio à tona, a deputada disse que os contatos que já teve com executivos da empresa se limitaram a eventos institucionais.

No caso da J&F, o executivo Ricardo Saud disse que a empresa contribuiu para Aécio Neves comprar apoio de partidos políticos na eleição, com R$ 100 milhões. Cristiane seria o canal no PTB, que teria levado R$ 20 milhões para aderir à campanha do tucano. A deputada não se pronunciou à época da delação, em maio.

Perfil

Cristiane Brasil, de 44 anos, é advogada pela Universidade Católica de Petrópolis, cidade onde nasceu.

Em 2014, se elegeu deputada federal pela primeira vez. Antes, foi vereadora do Rio de Janeiro por três mandatos. Em 2009, comandou a Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida.

Fonte: G1 e Carta Capital