O Caminhoneiro Vampiro

As estradas eram sua morada, o asfalto quente refletindo os faróis de seu bruto como um rio de luz eterna. Gerson Camaracho, caminhoneiro veterano de São Carlos, conhecia cada curva da Washington Luís, cada buraco traiçoeiro na Anhanguera, cada posto de gasolina onde se podia dormir sem ser incomodado. Mas ele nunca dormia.

Ninguém jamais desconfiou dele. Um homem calado, mas educado, sempre de boné e óculos escuros, mesmo à noite. Seu caminhão, um Scania vermelho, rugia pela estrada, carregado de cargas que ele transportava entre São Carlos, Rio Claro, Limeira, Campinas, São Paulo e até para o Nordeste. Mas junto com as mercadorias, Gerson carregava um segredo que jamais poderia ser revelado: ele era um vampiro.

Não era daqueles de capas esvoaçantes ou presas à mostra. Não, Gerson era sutil. Suas vítimas eram escolhidas com precisão. Nos postos de parada, ele se misturava aos outros caminhoneiros, contava piadas sem graça, comentava sobre a gasolina cara. Mas, quando a noite avançava e alguém aceitava sua carona, o destino daquela pessoa já estava traçado.

No caminho para alguma cidadezinha esquecida, o passageiro começava a bocejar, sentindo um cansaço repentino, um peso estranho nos olhos. O último som que ouviam era o ronco do motor, abafando o instante em que Gerson mostrava sua verdadeira natureza. Depois, o caminhão seguia seu trajeto, e ninguém nunca mais via aquele viajante desavisado.

As estradas do Brasil eram perfeitas para ele. A vastidão das rodovias, os desaparecimentos facilmente atribuídos a acidentes ou assaltos. Em São Paulo, corpos eram encontrados em terrenos baldios; no Nordeste, lendas urbanas começavam a surgir sobre “o caminhoneiro da noite”. Mas nunca havia provas, nunca havia suspeitas sobre o homem de barba grisalha, sempre prestativo com os frentistas e discreto nas rodas de conversa.

Certa vez, em um trecho da BR-116, um policial rodoviário o parou. Era uma blitz de rotina. O oficial pediu os documentos e iluminou o interior do caminhão com a lanterna. Gerson manteve a calma. Seu banco ainda estava levemente úmido com o sangue da última vítima, mas ele já aprendera a ser meticuloso.

— Tá indo pra onde, parceiro? — perguntou o policial.

— Recife — respondeu ele, sem hesitação.

O policial olhou para seu rosto pálido, seu sorriso contido. Mas nada pareceu errado. Entregou os documentos de volta.

— Boa viagem. Cuidado na estrada.

Gerson sorriu, ligou o caminhão e seguiu viagem.

Enquanto o sol nascia no horizonte, pintando o céu de vermelho e laranja, ele acelerava rumo ao destino. Seus olhos escuros, protegidos pelos óculos, não se desviavam da estrada. E, em algum posto de beira de estrada, outro viajante desavisado logo aceitaria uma carona sem saber que jamais chegaria ao seu destino.

Este é um conto, portanto, ficção, nada disso é realidade. Os personagens NÃO existem,