O medo das enchentes imperou na Baixada do Mercado no dia de ontem

As cheias e o perigo

Quando começou a escurecer e a ventar com mais força um comerciante que está há muitos anos na Baixada do Mercado me mandou uma mensagem via WhatsApp: “Renato, você sabe se vai chover forte?”

Eu respondi que havia a previsão de 20 mm, mas que esse tipo de situação nunca é cômoda para se precisar. O rapaz respondeu: “Estou com medo, pressentimento ruim para hoje!”

Cinco minutos depois de sua mensagem, vi que a chuva apertava, era constante, com vento, raios, trovões e que na cabeceira do Gregório era ainda mais forte. Sempre que isso acontece, o velho córrego transborda e o resultado são as cheias na Baixada do Mercado. Falei com o Pedro Caballero da Defesa Civil, um lutador incansável pela proteção dos mananciais, das matas ciliares, e também entusiasta da celeridade das obras contra as enchentes e ouvi: “Um cenário complicado, realmente a chuva está muito forte!”

Voltei a conversar com o lojista e ele me mandou um vídeo, a água subindo rápido na Geminiano Costa, cenário que estávamos acostumados a ver com frequência. Depois disso, os leitores, amigos queridos que nos ajudam diariamente, começaram a enviar material a todo momento.

A chuva inundava todo o antigo Centro Comercial de São Carlos. “Estamos com medo”, disse um outro lojista. O comércio na região fechou, o cenário de água barrenta e carros enfrentando a enchente apareceu pela primeira vez neste período de chuvas deste final de ano. A maioria das lojas colocou suas barreiras nas portas para segurar a água. Ficamos sabendo depois que nenhuma teria sido invadida, mas a sensação dos comerciantes é a mesma. “Todos aqui convivem com medo, a gente sempre espera obras que resolvam a questão, mas as desculpas são sempre as mesmas: está licitando, não temos dinheiro, estamos fazendo o projeto, me parece que agora estão licitando obras, espero que isso saia do papel!”, falou o comerciante que é meu amigo de anos e passou por várias inundações em diversos pontos.

Novamente a chuva impôs o medo da tragédia para quem só quer trabalhar. Vi o comentário de uma internauta dizendo que já foi falado que o Centro Comercial precisa deixar aquele local sempre castigado por inundações. De fato, a jovem tem razão no que fala, pois se construiu prédios onde não deveria existir nada e, sim, apenas a mata que caracterizava a região. Contudo, há o contexto histórico e também a falta de locais para um novo Centro Comercial, muita gente nem tem condições de sair dali, estamos diante de um problema econômico grave e ao que parece sem uma solução rápida.

O fato é que durante este mês de outubro, agora com o início de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, os comerciantes da Baixada do Mercado entram novamente no compasso de espera, estão esperando  e rezando para que novas enchentes não ocorram, o que é muito difícil de se garantir.

Eles aguardam também que as obras alardeadas pela Prefeitura saiam do papel, não há mais desculpa para que tudo fique como está. Ali, naquele espaço, já vimos de tudo até a base da Guarda Municipal se transformou em barco durante um temporal.

Portanto, não adianta os políticos gravarem vídeos e etc, precisamos de resolução para um problema que já é quase centenário.

As pessoas que tem afazeres no Mercado Municipal vivem com medo.

Renato Chimirri