Num dia desses, estava numa sala de espera para uma consulta médica e duas moças conversavam ao meu lado. Como falavam relativamente alto não tive como não prestar atenção no papo.
As duas diziam que não eram são-carlenses e que vieram para cá a trabalho. Uma delas já foi logo soltando: “o povo mais mal educado que vi no trânsito, não dão seta, reclamam, param em qualquer lugar, riscam seu carro e ainda por cima acham que estão certos, o são-carlense é chato e mal educado!”
A outra balançando a cabeça concordava com o desabafo da colega e em seguida disse: “Ah, mas e as filas? Cortam todas elas, esse povo não sei o que tem na cabeça, mas acho uma falta de educação, sem contar que a chatice, pois te olham de um jeito estranho se você faz cara brava quando cortam uma fila!”
As duas prosseguiram o papo, a bendita consulta (no caso a minha!) que não chegava e continuei ouvindo aquilo e até comecei a fazer alguma reflexão. Uma delas disse: “Fui pedir informação outro dia porque estava procurando um endereço em um bairro dessa cidade, uma mulher limpava a calçada e nem deu bola para o que falei, um outro cara me olhou feio, me senti como se fosse uma extraterrestre! Pensei em ir embora!”
Quando chegou no papo da filha de uma delas a situação ainda piorou. “Minha filha tem poucas amigas, a gente até tenta, mas parece que não há abertura para quem é de fora!”
Diante dos queixumes das duas moças eu fiquei pensando: será que nós, nascidos e criados em São Carlos, estamos sendo chatos com as pessoas que vieram de outras cidades? Proponho que façamos uma reflexão sobre este assunto, não é fácil ter que se adaptar num lugar diferente, né?
Por outro lado, penso que essas pessoas podem ter passado por experiências erradas, afinal de contas gente chata tem aqui, em Araraquara, em Pindamonhangaba ou em Quixeramobim, não é?
Acho que nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno, mas é hora de refletirmos se estamos sendo “xaropes” com amigos que vieram de outras cidades. Receber bem é uma arte e nós precisamos ser bons nisso também. Vale lembrar que já tivemos o apelido de Cidade Sorriso. Onde será que nosso sorriso foi parar?
Renato Chimirri é são-carlense criado no Castelo Branco.
