São Carlos entre a fumaça e a tristeza

Mais uma vez, o fogo volta a ser personagem indesejado na paisagem de São Carlos e Ibaté. Não é novidade, mas nunca deixa de entristecer. A cada agosto, quando o céu se prepara para a primavera, a terra parece se cansar da espera e se entregar às chamas. E nós, moradores, assistimos impotentes, sufocados pela fumaça que cobre o horizonte.

Na tarde deste sábado, os incêndios tomaram conta das estradas, dos canaviais, das áreas rurais. Entre São Carlos e Ibaté, ergueu-se uma cortina de fumaça tão espessa que escondia a própria linha do horizonte. O ar, já seco e difícil de respirar, ganhou fuligem, pó e um gosto amargo de descaso.

É sempre o mesmo roteiro: o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil correm contra o tempo, enquanto a natureza parece perder o fôlego. Do outro lado, a população aperta os olhos, prende a respiração e sente a garganta arder. Crianças, idosos, todos à mercê de um inimigo invisível que entra pelas narinas e machuca por dentro.

O que dói não é apenas ver o verde se tornando cinza. O que dói é perceber que, ano após ano, a história se repete como uma ferida que nunca cicatriza. O fogo, descontrolado, rouba pedaços da cidade, rouba saúde, rouba até o direito de respirar sem medo.

E assim seguimos, contando os dias secos de agosto, torcendo por uma chuva que não vem, rezando para que a fumaça se dissipe. Mas enquanto o fogo insiste em transformar vida em cinza, fica no peito a sensação amarga de que estamos sempre respirando a tristeza de um futuro queimado.

Fotos: Fulvia Gibertoni.