“Será que vão nos demitir para ficar com as aulas virtuais depois da pandemia?”, pergunta professor

As classes estão vazias

A pandemia trouxe para diversos profissionais uma realidade diferente de suas atividades tradicionais. Uma das profissões que mais sofreu com a proibição das reuniões com muitas pessoas foi a de professor. Sem a sala de aula, o giz, os livros, o apagador e o ambiente escolar, os educadores estão precisando se virar com as chamadas aulas on-line e isso tem trazido consequências para eles.

Um professor de 36 anos de uma escola particular de São Carlos e que também leciona em outras instituições da região contou um pouco do que vem fazendo e disse que está no limite do estresse. “Meu emocional está bastante abalado, primeiro porque me sinto incompleto sem os meus alunos, eles são tudo para um professor, sinto muita falta do ambiente escolar, quem acha que ficar em casa dando aula pelo computador é uma comodidade está falando uma grande bobagem”, garante.

Ele explicou que muitas vezes essa distância mata a chance de passar conhecimento adequadamente. “Não há a interação que existe na sala de aula, não há o cheiro do aluno como costumo dizer, é algo insosso e sem aquele espírito de descobrir, não gosto desse negócio de educação à distância”, disse.

O professor explicou que em muitos casos também o volume de serviço cresceu. “Temos os trabalhos dos alunos para corrigir e são centenas, até milhares, temos que justificar o que fazemos para as escolas, somos obrigados a participar de muitas reuniões virtuais com a direção desses locais as vezes fora do horário de trabalho e essas pessoas nos cobram por resultados, eles acham que porque temos a internet estamos dando aula como se estivéssemos num período normal, mas não estamos”, lembra.

De acordo com o educador, há um temor em sua categoria por este “fetiche” das escolas pelas atividades on-line. “Já imaginou se depois da pandemia essas escolas resolvem manter essas atividades pelo computador como rotina? Certamente teremos professores desempregados ou você acha que isso não é um teste? A aula virtual teria que ser um apoio e não uma rotina ao final dessa jornada pandêmica”, destaca.

Ele disse que os pais também estão estressados e que muitas vezes não entendem que os próprios professores tem sua família. “Pais nos cobram e acham que nossa vida está fácil, mas eles se esquecem que também temos a nossa família com os mesmos problemas cotidianos para resolver, porém já virou consenso numa sociedade que não valoriza a educação dar o rabo de foguete para o professor”, analisa.

O quadro não é bom, mas o professor entende que a volta neste momento é um risco gigante. “Sei que só voltaremos com a vacina, toda dia pesquiso sobre o assunto, pois preciso ficar informado para conversar com os alunos sobre isso, pois essa virou uma curiosidade deles também, percebo que muitos não veem a hora de estar na classe, o que é curioso, pois antes isso era uma tortura e agora se transformou num desejo”, assegura.

O professor ressaltou que diante de todas as pressões que vem sofrendo em sua área precisou buscar ajuda psicológica e médica. “Hoje tomo um calmante, porque fiquei muito estressado com a situação, assim ao final da noite dou uma relaxada, mas estou fazendo de tudo para cessar com isso, não quero ser dependente de remédios pelo resto da vida”, garante.

Pessimista, o professor acredita que o Brasil vai mal. “Veja, a Amazônia queimando, o Pantanal sendo destruído, a COVID comendo solta e tem gente que acha que isso é guerra ideológica, quando esse rebanho acordar, será tarde demais”, finaliza.

 

Por Renato Chimirri

Imagem de Wokandapix por Pixabay