
*ESTA OBRA SOBRE A SEXTA-FEIRA 13 É FICÇÃO
Aquela casa abandonada na rua 13 de Maio no Centro de São Carlos sempre intrigava pessoas. Muitos diziam que era mal assombrada, outros mudavam de calçada quando chegavam seu quarteirão. Uns diziam que era o lugar onde a menina que dançou com o diabo tinha morrido, o que era uma grande mentira, porque essa morava na Major José Ignácio esquina com a Ruy Barbosa.
Fato é que naquela noite, uma sexta-feira, 13 de outubro, três estudantes resolveram fazer uma aposta entre si e inventaram de entrar na casa durante a noite. Combinaram de se encontrar na Praça da Catedral. Um vinha da Redenção, outro do Castelo Branco e outro da Vila Nery.
Eles gostavam de dizer que eram caçadores de fantasmas ou que que se aventuravam para explicar aquilo que não se vê.
Ocorre que nos dias de hoje, o que mais o diabo gosta é que não acreditemos que ele existe, o tinhoso prefere as nuances de se esconder em meio à inveja e a mortalidade humana sempre ávida por poder e neste caso estávamos observando uma nítida disputa para ver quem tinha mais coragem.
Caminharam os três pelo menos uns quatro quarteirões até chegaram em frente da casa. Ela estava quebrada, portas estouradas, mas portões trancados. O vento forte tomava conta da noite, tinha chovido momentos antes.
Tiraram a sorte, como se estivessem decidindo sobre o manto de Jesus no Calvário, para ver quem invadiria o local primeiro. A aposta era invadir a casa, tirar fotos, coloca-las no grupo de WhatsApp e depois ver quais delas ficariam melhoras para o Instagram dos caçadores de alma penadas.

Sexta-feira 13: entrou na casa e o que aconteceu?
O primeiro a entrar foi Jaques. Subiu pela árvore, caiu no quintal. Muitas folhas de árvores enroscaram no seu tênis Acendeu o farolete e empurrou a porta. Quando entrou na casa viu móveis velhos, um cheiro de urina forte, até ratos correndo pelas madeiras. De fato, um ambiente insalubre. Tirou algumas fotos e mandou para o grupo, os amigos estavam na esquina.
Jaques caminhou por dois, três cômodos, era uma casa antiga, assoalho detonado de madeira e foi até a cozinha. Quando chegou na cozinha, empurrou a porta que vinha da velha copa, empoeirada e barulhenta. Ao passar, sentiu que foi empurrado.
Ele não teve tempo. Caiu no chão e apenas olhou para cima. Na sua frente estava um homem, um alemão, de fraque, uma gravata borboleta vermelha que lhe disse: “Pode se sentar, senhor!”
Jaques: “Quem é você? De onde veio?”
O alemão respondeu com sotaque típico: “Ora, ora, ora eu vim de onde o senhor não pode imaginar para lhe servir o jantar!”
O estudante retrucou: “Eu não quero comer, vou embora! Não sabia que tinha gente aqui! Era apenas uma brincadeira com meus amigos!”
O esguio alemão o segurou pelo braço, Jaques sentiu sua força descomunal, tentou se livrar, mas não conseguiu. O homem o levou arrastado para uma mesa em outro cômodo da casa. O fez sentar, praticamente o grudou na cadeira. Jaques tentava se soltar, mas alguma força sobrenatural não permitia que ele saísse, estava pregado naquele assento velho.
Ele olhou para a mesa e viu restos de comida, bigatos, ratos passeando e um cheiro insuportável vindo da cozinha. Foi neste momento que uma mulher, pela pálida, cabelos mal cuidados, unhas praticamente podres saiu da cozinha e já foi logo soltando: “Manfred, nosso convidado chegou? Já está à mesa? Que ótimo, o jantar será servido em instantes!”
Jaques resolveu gritar! Via as velas acesas todas com cheiro de enxofre na casa, os vidros quebrados e Manfred amolando uma faca enorme. Ele olhou para o seu celular notou que ainda era 0h15, a hora que tinha entrado na casa, ou seja, o tempo parou.
Manfred se dirigiu a Jaques e com um sorriso satanizado soltou: “Você adorará o cozido de Frida, hoje teremos sopa, seu prato preferido!”
“Por que eu? Por que vocês me pegaram?”, perguntou Jaques.
“Já pegamos tantos, meu jovem! Você não é o primeiro, não será o último, talvez essa seja sua derradeira refeição, aqui é o restaurante do quem procura, acha!”, falou Manfred com aquele olhar de provocação.
“Mas estávamos apenas querendo descobrir um lugar oculto, somos caçadores de histórias de terror!”, bradou o jovem.
Manfred franziu a testa e lhe disse que aquela a casa foi construída no ano 1899 pela empresa A.B. Hockenhein para ele e a esposa Frida morarem e que nos primeiros anos se davam bem em São Carlos, mas que ambos acabaram acometidos pela Gripe Espanhola e morreram no local sem a compaixão dos são-carlenses. “Frida tinha um lugar para comidas, muitos aqui se esbaldavam com seu dom culinário!”
“Mas se vocês morreram, os corpos não estão mais aqui!”, acreditava Jaques.
Manfred apontando a faca para Jaques falou: “Estamos, estamos sim!” Em toda a sexta, dia 13, nosso restaurante abre de novo. Nós saímos de nosso leito de morte no andar de cima e descemos para preparar o jantar! Hoje você é nosso convidado!”
A porta da cozinha se abriu novamente e era Frida. Trazia um caldeirão fumacento. Colocou um prato sujo na mesa e uma concha para Jaques. “Você vai adorar o meu cozido de baratas, tem um toque francês, mas é receita da Baviera!”
Jaques olhou e viu o prato cheio de baratas cozidas em água. Manfred, babando, o mandou experimentar.
Quando foi dar a sua primeira garfada, pois Manfred lhe apontava a faca lhe ameaçando a vida, escutou que pessoas chegaram na sala. Manfred e Frida correram até o local e viram que os amigos de Jaques haviam entrado na casa. O casal foi para cima deles, Manfred com uma faca e Frida com um machado, os dois rapazes correram, Marcio e André eram rápidos, embora o último tenha ferido sua perna quando desviou de um golpe de Frida.
Jaques começou a gritar e os dois entraram na cozinha, fecharam a porta com uma estaca e soltaram o amigo. O casal começou a destruir a porta para poder entrar novamente no cômodo e fazer aquilo que estavam planejando e que não era coisa boa, mas num ato de coragem, Marcio apontou a janela e os três arrebentaram o vidro e pularam no quintal.
Manfred correu para tentar impedir o trio de novamente subir na árvore e ir para a rua, mas eles conseguiram escapar. Caíram todos na calçada e depois correram para o local mais longe possível. Estavam machucados, roupadas rasgadas, cheiro insuportável.
Vinte minutos depois, eles viram diversas viaturas do Corpo de Bombeiros passando no quarteirão. Reuniram a força que tinham e da esquina viram que a casa estava pegando fogo. Um bombeiro gritava para o outro que estava no caminhão: “Está vazia, não tem ninguém, pegou fogo espontaneamente!”
A sexta-feira 13 são-carlense daqueles três rapazes foi estressante. Na segunda, depois de dois dias de descanso, foram à uma biblioteca ver jornais do período da Gripe Espanhola em São Carlos e acharam a seguinte manchete: Casal de Alemães, donos de restaurante, morrem de Gripe Espanhola.
A matéria contava que os corpos permaneceram no local e que a crendice popular dizia que a casa era mal assombrada. Por anos e anos, a empresa alemã que mantinha relações com São Carlos não conseguia vender o imóvel. Uma pessoa misteriosa sempre atrapalhava o negócio.
Por Renato Chimirri


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