A menina de 10 anos estuprada pelo tio desde os 6 chocou a todos nós. O caso se “concluiu” com a prisão do tio e o aborto do bebê, por vontade da menina e da avó, sua tutora. Grupos religiosos e extremistas fizeram um júri popular para sentenciar uma menina de 10 anos estuprada. Eles os que se diziam a favor da vida, deram um belo exemplo do que há de pior na existência humana: a intolerância e a falta de empatia com o outro.
Admira-me como alguns cristãos se afastaram do Cristo. Ele que acolheu a adúltera e perguntou aos que queriam matá-la pelos seus erros: “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”; Ele que sentou com pecadores, tocou leprosos, falou com gente que não era da sua gente. Ele que nunca olhou para as pessoas e as limitou nas suas escolhas, mas foi capaz de ir além, via o quão longe cada um podia ir ainda que naquele momento se sentiam atados para caminhar. E é por isso que muitos estão longe do Cristo. Porque muitos que se dizem cristãos se sentiram juízes de seus irmãos e confundiram isso com profetismo, com testemunho de fé, quando na verdade não passa de arruaça e violência psíquica, emocional e às vezes até física ao outro. O que me admira no Cristo é seu modo de saber deixar livre as pessoas, o que me assusta em alguns cristãos é o modo de querer aprisionar os outros. A fé nunca deve ser imposição.
Eu sempre aprendi que a única, A ÚNICA COISA QUE TEMOS é a Liberdade. Nem Deus nela interfere. Não cabe aos cristãos escolherem pelos outros, mas é a partir das escolhas que as pessoas fazem que nós podemos apresentar caminhos diferentes a serem feitos. Todos temos uma outra chance de fazer dar certo. Eu lamento, lamento a intolerância, lamento a imaturidade. E peço perdão.
Isso era isso o que eu queria dizer. PERDÃO. Perdão porque a Igreja é perita em humanidade, mas às vezes os seus seguidores falham como humanos; perdão porque alguns dos nossos compreenderam errado a mensagem que dizia: “amai-vos uns aos outros”. Perdão para as vidas infantis que tocaram mortes. Perdão. Meu perdão e minha oração a essa menina por tudo que os cristãos gritaram; meu perdão e minha oração ao bebê que hoje vive em Deus; meu perdão e minha oração à você que ama a Cristo e o serve todo dia.
A nós não cabe julgamentos, muito menos condenações. A nós cabe a luta diária a favor dos vulneráveis, a nós cabe o acolhimentos, a nós cabe o perdão, a nós cabe somente o que caberia a Ele. Sem impor, a gente é Cristo ao acolher. Se posso, ainda peço: mais amor, por favor!
Padre Robson Caramano
