Perdeu o seu amor da 8ª série na Pandemia de COVID-19

JB, é assim pelas iniciais que vamos chama-lo, é um pequeno empresário com dois empreendimentos, um em São Carlos e outro em SP. “Consegui isso graças à uma herança familiar, coisa bem administrada desde a época dos meus avós e com isso criei filhos, dei muita sorte”, diz.

A vida de JB era isso, administrar seus investimentos e procurar dar uma vida confortável para a sua família além de fazer trabalho voluntário com amigos. “Sempre fizemos, não somos associação, nem nada, mas é uma forma de ajudar alguém, prefiro apenas não dizer o que fazemos, porque não queremos propaganda”, ressalta.

Parece a vida padrão, né? Pois é, mas a pandemia de COVID-19 mudou tudo. JB era casado com Ana. Quando esse inferno que nos assola começou, ele e a esposa tomaram cuidados. “Pouco saíamos de casa, somente para mercado e alguma necessidade de medicamentos, cortamos visitas, cortamos tudo”, diz.

Mesmo assim, JB passou pelo dissabor da COVID. “No meio de abril passado eu acordei com muita dor de cabeça, dores no corpo, febre, estava na capital e fui testar, deu positivo, minha mulher estava comigo e precisou testar, o resultado foi o mesmo”, conta.

JB ficou com sintomas por 12 dias, mas não teve intercorrência respiratória, já a Ana no terceiro dia começou com a saturação baixa, precisou ir para o hospital, oxigênio, nada de melhora, depois foi para a Unidade de Terapia Intensiva e uma luta de dias que terminou em óbito. “A Ana se foi numa sexta, meu mundo acabou ali, porque até hoje não aceitei a perda que tive, perdi a mulher que conheci na 8ª série e que estava ao meu lado até hoje, perdi quem organizava, quem levava a nossa vida e dava aquele sopro, sabe? Meus filhos entraram em depressão, nossa casa ficou sem alegria!”, recorda em lágrimas.

Ele disse que por dias, talvez semanas, o diálogo entre a família, depois da partida de Ana era monossilábico. “Nada tinha sentido, a gente apenas respirava e vivia, por sorte, as crianças não pegaram a doença, decidi deixá-los um tempo na casa dos avós e precisei de um tempo para mim”, ponderou.

Sozinho, ele disse que buscou ajuda profissional para tratar seu luto, sua perda, seus sentimentos, curar sua alma, sua vida. Depois disso, começou a fazer algo diferente. “Eu pego o carro todo dia e vou até a zona rural, paro, faço uma caminhada nas árvores, vejo pássaros, as vaquinhas, a Ana gostava de fazer isso e é uma forma de recordar a vida dela”, analisa.

Sobre as questões profissionais, JB ressalta que teve prejuízos porque se desorganizou, mas que conseguiu retomar suas coisas. “Hoje minha filha tem dado um grande apoio, ela assumiu o lugar da minha esposa, meu filho ajuda, mas está se dedicando à outra carreira”, destaca.

Agradecido por sair da doença, embora com um buraco no peito por causa da sua perda, ele pede consciência e faz um reconhecimento: “Médicos, enfermeiros e demais trabalhadores dos hospitais são heróis, estão cansados e as pessoas continuam aglomerando, veja o comércio fechado, está assim porque esse pessoal não respeita os protocolos, faz festa e os empresários estão morrendo, falindo, fechando, esse povo não percebeu que eles estão acabando com o sustento de outras pessoas?”

O número de exames positivos em São Carlos e no resto do Brasil e o ritmo lento de vacinação deixa-o assustado. “Quando vamos sair disso? O governo precisa acelerar a vacinação, São Carlos tem sempre mais de 100 casos por dia há tempos, a Prefeitura precisa tomar medidas rígidas, queremos melhorar, olhem por todos, por favor!”

Para sua Ana ele apenas diz: “Eu te amo, onde você estiver, vou te amar para sempre, no vinho que tomo, lembrarei de você, no sorriso e nas flores, na chuva, talvez até encontre um alguém, mas o seu espaço no meu coração permanecerá!”

Por Renato Chimirri

Imagem de S. Hermann & F. Richter por Pixabay